Em dias de total descrédito na política e nos políticos, armo-me de coragem e declaro incondicionalmente meu orgulho, meu prazer, minha vocação de exercer a política.
Longe de ser um meio de enriquecimento, de trampolim social, de conquista de poder, a política é, antes de tudo, coisa muito séria. O político digno deste nome, o estadista real, almeja muito mais do que estas benesses temporárias. A obra de um político convicto e sério surge do sonho de multiplicar o bem possível, de harmonizar direitos e deveres de cidadania.
A ciência da política tem história, tem cânones, tem exemplos. É esta política que vem desde Platão que eu tenho orgulho de praticar. A política que tenta criar leis que, no sentido mais amplo, são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas e dos homens. Aliás, Platão, o filósofo ateniense, usava uma bela metáfora para exemplificar a nobreza da política: a atividade do político, disse ele, assemelha-se à da tecelagem. Nada mais é do que a arte da vestimenta, o que implica na escolha do tecido, das peças que devem ser costuradas à mão, e da armação final, pois seu objetivo maior é dar segurança e abrigo, da mesma forma que um traje protege das intempéries e assegura os pudores. Por isso, o político deve desenvolver habilidades tais como saber tecer, destramar fios e costurar, porque um dos seus afazeres maiores é conseguir misturar o tecido maior e melhor com o menor e o pior (isto é, encontrar o equilíbrio entre os fortes e poderosos e os mais fracos e indefesos).
É disto que tenho orgulho, tenho orgulho de participar de um processo que busca estabelecer mecanismos que permitam a construção coletiva do bem comum. Tenho orgulho e disposição para dialogar, para ouvir e entender os anseios das pessoas a quem sirvo, para buscar dispositivos que permitam melhor qualidade de vida para todos e um; não só para poucos.
Tenho orgulho também seguir um caminho capaz de colocar-me ao lado pessoas como John Fitzgerald Kennedy, seu irmão Robert Kennedy, Martin Luther King, Mahatma Ghandi, Golda Meir, Winston Churchill, Charles De Gaulle, Tancredo Neves, Mário Covas. Poderia discorrer nomes e mais nomes de políticos idôneos, dedicados às suas causas, é verdade, mas todos imbuídos da vocação maior de servir o povo.
Além de incontáveis pessoas inspiradoras, minha história acadêmica levou-me a perceber e definir, logo aos 19 anos, que minha escolha seria pela prática da política, pelo caminho onde a busca de uma sociedade mais justa faz todo o sentido. Em nome desta opção, abri mão de fazer fortuna nesta seara: sou um funcionário público, tenho consciência de meu papel de serviçal e interlocutor do povo; povo este que escolheu os políticos com quem trabalhei durante catorze anos e povo este que reconheceu a experiência e a dedicação deste meu caminho, elegendo-me legislador.
Minha história profissional aproximou-me da intelligentzia desta nação: pessoas sábias, capazes, honestas, devotas do desenvolvimento do país, mas, principalmente devotas do bem-estar do brasileiro. Servi alguns dos grandes luminares da política brasileira, como Fernando Henrique Cardoso e José Serra. Aprendi idoneidade e dedicação pela práxis política com líderes sensatos e entusiasmados.
Enfim, meus modelos só fazem reconfirmar a honra e o privilégio de minha opção. A possibilidade de conviver, aprender e, um dia talvez, equiparar-me a estes exemplos é o que me alimenta e me motiva. A verdade é que se pudesse, dedicar-me-ia 48 horas por dia a fazer política, obviamente junto ao calor e contando com o apoio de meus entes queridos.
Sim, sou um entusiasta da arte da política, mas não sou Polyana, uma pessoa sonhadora que vê coraçõezinhos em tudo e borboletas voando em volta das flores na janela. Sou capaz de perceber que o universo político anda polvilhado de oportunistas, de deslumbrados pelo poder, de espoliadores do povo e de incautos, que acabam por engessar-se a caminhos, colocando cabrestos e esquecendo-se de suas origens íntegras. Sou sabedor também de que a palavra política está atualmente deveras poluída, impregnada de um conceito negativo derivado de abundantes maus exemplos.
Mas, sim, sou um otimista. Acredito no Bem. Acredito na possibilidade de espelhar bons exemplos e contaminar cada vez mais políticos com um pacto pela ação, competência e integridade.
É assim então que tenho a ousadia e a coragem de explicitar: Tenho orgulho de ser político.
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